sábado, 6 de outubro de 2012

O que ninguém fala sobre as UPP's

Se você mora no Rio de Janeiro, com certeza conhece ou ouviu falar nas Unidades de Polícia Pacificadora, as famosas UPP's. Se você não reside nesta cidade, também já deve ter ouvido falar sobre esse assunto.

O atual Secretário de Segurança do Estado do Rio de Janeiro, Sr. José Mariano Beltrame, assim definiu como ele imagina que a Polícia deve ser: "Queremos um policial com formação técnica e humanista". Acredito que o Sr. Secretário deve primeiro descobrir o que as palavras "técnica" e "humanista", principalmente esta última, significam. Ou então esclarecer à população qual ser entendimento destes termos.

O que é morar em uma comunidade dita como pacificada? Somente quem passa por essa experiência sabe o que isso significa. E eu posso dizer com experiência de causa, porque resido há 33 anos em uma comunidade há mais de um ano "pacificada". E sabe o que ganhamos com isso? Nada!

Vejo propagandas do Governo do Estado na televisão e fico tentando reconhecer aquelas imagens ou tentando me inserir naquele contexto. Tudo aquilo é muito estranho à minha realidade. Parece outra cidade, outro país. A realidade não é colorida, bonita e sorridente como apresentam. Ela é cinza, triste e banguela!

O site oficial da UPP assim as definem: "A Unidade de Polícia Pacificadora é um novo modelo de Segurança Pública e de policiamento que promove a aproximação entre a população e a polícia, aliada ao fortalecimento de políticas sociais nas comunidades". Tudo balela, conversa de político para o pobre do boi dormir.

A UPP fere a Constituição Federal, os Direitos Humanos e o faz de forma grave e inconsequente. O policial, ao chegar em uma comunidade dominada pelo tráfico, age de forma irresponsável. Atiram primeiro e perguntam depois. Muitas pessoas inocentes, crianças, mulheres, homens que iam ou voltavam do trabalho, gente de bem e do bem, foram vítimas desta invasão. Não há técnica. Apenas a ordem do ATIRE PRIMEIRO E PERGUNTE DEPOIS.

A Constituição Federal, em seu artigo 5º, reza que "ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença pensa condenatória " Ou seja, somos inocentes até que nossa culpa seja legalmente comprovada.

O artigo 1º da Declaração Universal dos Direitos Humanos - um documento importantíssimo das Nações Unidas - diz que "todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos".

Nestas comunidades, a miséria é monstruosa. Não há saneamento básico. A água não chega para todos. As crianças estão fora das instituições educacionais. O consumo e comercialização de entorpecentes continua existindo - e, às vezes, com a conivência desta polícia técnica e humanista.

As obras que estão sendo feita são meramente de fins eleitorais. Grandes estruturas são construídas, mas a qualidade do serviço oferecido é péssimo. As UPA's - Unidades de Pronto-atendimento - não têm médico e quando tem não estão em quantidade suficiente para atender a demanda. A população sofre. As Clínicas da Família não cuidam, não fazem o trabalho que deveria ser feito. Minha mãe, por exemplo, foi humilhada pela atendente na clínica que fica na Penha. Disse que nunca mais bota os pés lá. Isso é humanista, Sr. Governador?

Os moradores são tratados como bandidos. Têm suas casas arrombadas, seus pertences jogados no chão, humilhados. Morar no morro ou na favela reduz a todos a traficantes. Onde está a formação técnica e humanista, Sr. Secretário?

Eu tenho nojo disso tudo! Nojo dos nossos governantes! Nojo da política que é feita! Nojo desse sistema. Tenho vontade de vomitar quando vejo que somos diariamente enganados.

Pois bem! Esse texto é só o primeiro de muitos outros que virão. Cansei de ficar passivo diante destas situações que sofro todos os dias. Vou usar as mídias sociais a meu favor. Fazer ouvir o meu grito que sei que não é solitário. Estou cansado de ser tratado como lixo humano! Tenho direitos! E exijo respeito, exijo DIGNIDADE!

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