terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Tentando Entender - Curta nº 1

Quando tudo começou, ela jamais pensou que ia ter forças para conseguir chegar aonde chegou. Afinal, nunca se imaginou pedindo conselhos a uma vidente. Como também nunca se imaginou acreditando nos conselhos que recebeu quanto finalmente criou coragem e foi se consultar com a esotérica.
Ela nunca foi uma pessoa religiosa. Nem ao menos gostava de ir à igreja com sua mãe que insistia todo domingo para que fossem juntas ao culto.
Também nunca foi uma pessoa que acreditasse muito nessas coisas místicas. Jamais acreditou em simpatias. Nem sequer tinha superstições.
Mas aquele dia era diferente. Era como se em sua cabeça uma ideia fixa se repetisse e ficasse ecoando em seu cérebro.
Decidiu: chegara a hora! Levantou-se, procurou na bolsa o cartão com o endereço da vidente e saiu. Chamou um taxi e vinte minutos depois chegava ao seu destino. No início, ficou um pouco receosa, pois quando percebeu que o endereço indicado no cartão o conduzia a uma casa simples, sem luxo algum, começou a desacreditar no poder da médium. Sempre acreditou que essas pessoas conseguiriam primeiro o próprio sucesso e só depois apontariam o sucesso das outras pessoas.
Como já estava ali nada tinha a perder. Tocou a campainha. A porta se abriu e uma linda moça a recebeu. Mostrou o cartão e a jovem recepcionista, já acostumada com a situação, convidou-a para entrar, sentar e aguardar alguns momentos para ser atendida.
O interior da casa era mais simples do que o exterior permitia-lhe imaginar. Havia móveis e poltronas de várias cores que não combinavam entre sim. Tudo parecia um arco-íris, mas sem muita harmonia na escolha das cores.
Ainda divagava quando a atendente a chamou e informou que seria atendida naquele momento. Ela se levantou, respirou fundo e se dirigiu a um outro cômodo, menos iluminado, menos colorido, mais harmonioso, mais tranquilo.
Não sabia muito bem o que havia acontecido após passar por aquela porta, mas sentia agora uma calma que não sentia há tempo – desde quando tudo aconteceu… tudo que a levou até aquele momento.
A vidente era uma mulher nova – bem diferente do que havia imaginado. A recebeu com um sorriso simpático e a convidou a sentar-se. Não fez pergunta alguma. Pediu para ver suas mãos. Tocou, olhou e, por alguns instantes, ela pensou que a vidente estava vendo um filme em passando pelas suas palmas.
Passou-se algum tempo. Aquele silêncio a consumindo. Após uma longa espera, a vidente começou a falar.
- Quanto tempo faz que ele se foi? – perguntou a vidente.
- Ele quem? – ela se assustou, pois não esperava esta pergunta.
- Seu marido. Quanto tempo faz que ele a deixou? – continuou a vidente, num tom de voz calmo e bastante acolhedor.
- Tem três meses que tudo aconteceu. – Neste momento, sua voz começou a ficar embargada. Uma emoção começou a percorrer seu corpo. Não sabia onde aquilo tudo iria conduzi-la. Sabia apenas que não queria mais chorar, pois já havia derramado lágrimas demais.
- Então ele nunca ficou sabendo do bebê?
- Nunca… - a voz saiu abafada enquanto uma lágrima escorria por um de seus olhos.
Neste momento, a recepcionista entrou na sala trazendo um copo d’água.
- Às vezes, a vida age de uma forma que a gente pensa que não vai sobreviver, que não vai conseguir superar uma perda. O tempo passa e a gente vai percebendo que é mais forte do que imagina. – sentenciou a vidente.
- Eu sei! – disse ela ainda se recuperando.
Alguns dias depois da consulta, ela decidiu que estava pronta para enfrentar o que estava adiando fazia três meses.
Levantou-se e foi em direção ao banheiro. Tomou um banho com a água bem quente. Demorado. Revigorante. Depois, passou seus cremes que estavam esse todo tempo guardado em gavetas. Perfumou-se. Penteou seus lindos cabelos pretos, lisos e grandes.
Quando passou pela cozinha, sua mãe assustou-se. Disse que iria sair e que voltaria em breve. Não havia motivos para preocupação. Ela queria apenas se reconciliar com o passado.
Demorou a chegar ao seu destino. Na porta, olhou bem ao redor. Por alguns segundos, sentiu seu corpo fraquejar. Mas sabia que tinha que seguir em frente. Entrou. Foi direto onde sabia que ele estaria. Afinal, depois de tudo, como ele poderia não estar ali?
Enquanto ia chegando, foi lembrando-se daquela noite… da noite em que ele se foi.
Quando chegou foi logo dizendo tudo que estava engasgado e preso em seu coração já três meses.
- Eu ainda fico me perguntando porque você se foi – começou. Ainda não consigo entender como você pode me abandonar. Sinto muito sua falta. Vejo você em todos os cantos da nossa casa. Tudo que fizemos juntos, que conquistamos juntos.
Agora que você se foi, preciso continuar minha vida. Por isso estou aqui. Por isso decidi lhe contar tudo.
Você sabe que foi meu primeiro e único amor. Que foi o único que fez com que eu me sentisse bonita, desejada. Nossa história tinha todos os motivos para dar errado. Éramos tão diferentes. Eu sempre fui racional demais. Queria achar razões e justificativas para tudo. Jamais imaginei conhecer um ser humano tão sensível como você era.
Você teve muita paciência comigo. Afinal, você sempre foi mais coração. Era assim que eu te chamava, lembra? Coração. Meu coração. Eu talvez fosse a sua razão. Por você a gente daria volta ao mundo, viajaria mais, se divertiria mais. Se fosse por mim, nós economizaríamos mais, faríamos investimentos, pensaríamos mais no futuro.
Hoje, se pudesse voltar no tempo, teria ouvido você um pouco mais. Teria sido menos prudente. Será que isso teria salvado na nossa relação?
Sei que você vai rir de mim com o que vou lhe contar, mas tudo bem, pode rir. Fui a uma vidente. Eu sei, não combina comigo. Também acho. Mas fui. E tenho que confessar que me fez muito bem. E, acredite, ela não previu nada. Apenas fez com que eu me sentisse como não me sentia desde sua partida.
Sabe, – e passando a mão em sua barriga, continuou – vou sempre lembrar com muito carinho de você. Vou sempre contar para nosso filho as piadas que você me contava. Tudo bem, elas eram muito graça. Mas como era bom rir delas só para te fazer feliz.
É, nosso filho. Estou grávida. Fiquei sabendo naquele dia. Não via a hora de você chegar para lhe contar. Preparei uma surpresa. Escondi um par de sapatinhos que havia comprado assim que recebi do meu médico a notícia. Escondi na gaveta onde você guardava suas cuecas. Mas você nunca viu.
Bom, preciso ir agora. Só queria que você soubesse de tudo isso. Nunca vou esquecê-lo. Você foi, é e sempre será muito importante em minha vida. Não sei como vou fazer para continuar sem sua presença. Só sei que preciso prosseguir. Por mim. Por nosso filho.
Fique em paz!
Levantou-se, enxugou as lágrimas, fez uma prece. Lembrou-se das palavras que sua mãe a ensinara para falar com Deus. As repetiu fervorosamente.
Abriu os olhos e leu o que estava escrito a sua frente: AQUI JAZ UM FILHO AMADO, UM MARIDO FELIZ E UM PAI MARAVILHOSO.
Só teve um pensamento. Com o coração mais aliviado, transformou este pensamento em palavras:
- Isso você com certeza seria!

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